sexta-feira, 5 de julho de 2013

Ladeira abaixo: O Rei está nu!

O povo de morro acima, governo ladeira abaixo, é o que presenciamos na atualidade brasileira!

Desde maio do ano passado, tenho externado minhas observações criticas sobre o governo do PT, já que antes, por motivos até mesmo afetivos, eu me limitava a considerá-las apenas em foros internos e de forma bastante discreta.

No entanto em minha trajetória de militância, observei constantemente um divisor de águas sempre que se tratou de postura e posicionamento político. E este lenheiro é o povo. Entre os interesses, a vontade e o clamor popular e qualquer outra pretensão ou situação, minha trincheira foi e será, invariavelmente, o povo brasileiro.

Tentei por várias vezes, em diversos lugares e com figuras públicas as mais variadas, busquei comentar e refletir sobre a situação brasileira, a partir da experiência da base, ali onde o Brasil real acontece, muito antes da explosão popular que teve seu epicentro em São Paulo, sendo desdenhado e até mesmo retaliado ao tentar insistir no assunto.

Não me restou então, ante essa situação de exclusivismo e absolutismo do comando central da nação brasileira, intolerante e autoritária, explicitar como lutador histórico, de forma mais pública, toda a minha insatisfação e indignação, face à calamitosa situação nacional e os desatinos do partido hegemônico no poder, mantendo-me no alinhamento histórico incondicional quando desafiado, em lugar de ceder por interesses pessoais

Abordo a seguir alguns dos principais motivos do desgaste e da quebra de confiança nos representantes eleitos e nas instituições brasileiras, especialmente no âmbito federal:

1. Descontrole da economia, permitindo a volta da inflação, fantasma que assusta a população;

2. Esquecimento e abandono dos compromissos assumidos com os Prefeitos durante a campanha de 2010. O Brasil está nos Municípios, onde tudo o que está acontecendo poderia ter sido visto com antecipação e em grande parte corrigido, se a amnésia e o autoritarismo não tivessem predominado sobre a vontade de dialogar e resolver questões objetivas da realidade brasileira com a participação das lideranças municipais e o povo;

3.Manipulação da informação, com maciça publicidade, na tentativa de mostrar um Brasil não verdadeiro, em lugar de reconhecer a verdade e admiti-la como veículo transformador;

4. Intolerância no tratamento das divergências, insistindo no inútil casuísmo palaciano de quem não tem a humildade de admitir quando erra, nem a grandeza de revelar isso em público;

5. Excesso de paciência e tolerância com a corrupção em suas mais variadas formas de manifestação ante o olhar incrédulo da população. O partido hegemônico do governo federal jamais se posicionou com clareza e contundência sobre essa doença maldita que no Brasil pode ser sinônimo de genocídio, já que sua prática atinge milhões de brasileiros, privados por ela de uma condição digna de vida;

6. Máquina pública hipertrofiada com abusiva existência de trinta e nove ministérios que compõem a ampla rede de apoio e negociação do Governo Dilma e a mesa da barganha indecente que cada um desses “ministérios” engendra e carrega consigo, gastando em seu conjunto cerca de 200 bilhões de reais, somente para manutenção administrativa;

7. Imobilismo e inconsciência ante o mais grave problema da população, a nível nacional, a saúde, com as tabelas do SUS totalmente defasadas, enquanto a Senhora Presidenta, além de não cumprir o índice constitucional determinado à União agrava ainda mais tal situação, ao retirar 5 bilhões de reais do orçamento da saúde e transferi-los para a construção ou reforma de estádios para a Copa das ­Confederações e a Copa do Mundo, com a onda de corrupção que essa decisão desencadeou;

8. Renúncia de receita para incentivar a compra de automóveis de passeio, retirando o imposto sobre produtos industrializados (IPI) do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), prejudicando as prefeituras, endividando a população e desorganizando as cidades ao dificultar ainda mais a mobilidade urbana, com o enorme crescimento da frota de carros novos e o aumento da poluição ambiental de todo tipo. Foram mais de 8 bilhões neste ato desatinado, que poderiam ter sido usados para melhorar a mobilidade dos cidadãos em diversos aspectos;

9. Tentativa abusiva de imiscuir e controlar politicamente o Supremo Tribunal Federal – STF, o Ministério Público e os partidos políticos, além do Congresso Nacional;

10. Desdém no reconhecimento, análise e aceitação verdadeira das manifestações populares, tentando diminuir sua origem e menoscabar sua força, primeiro dizendo que eram os ricos, depois a classe média e agora, quando vêem que é o povo inteiro que está nas ruas (81% aprovam as manifestações, segundo o Datafolha), já não sabem o que dizer e nem podem continuar afirmando que o Brasil está saudável, limpinho, perfumado e feliz, como vinha sendo propalado, chegando ao ponto de proferir ameaças, como fez o Ministro da Justiça aos caminhoneiros, ao fecharem as estradas, protestando por melhores condições de trabalho;

11. Insistência reiterada no intento de manipulação a crise, atitude reveladora da absoluta incapacidade do partido hegemônico de lidar com o povo, seja no governo, por se entrincheirar na mentira, ou na situação atual, ao não querer admitir que a explosão popular não terminou e nem será domesticada ou contida com mais um gesto de ameaça ou um ato pífio da Presidenta, cujo único objetivo é tentar esvaziar a insurreição e trazê-la para os gabinetes palacianos. Pobre engano! O movimento não parou e nem vai parar só porque o governo federal quer e pensa que pode fazê-lo, desconhecendo a alma e a energia do povo; 

12. Desprezo ao conteúdo ideológico e político das manifestações ao considerá-las apolíticas;

Em princípio, o aparente apoliticismo dos manifestantes, tem sua raiz e explicação no desencanto com a situação a que chegamos e cujos responsáveis são a maioria dos políticos de turno e não os de todas as épocas. É, portanto, algo justo que reabre a esperança de mudança naquilo que o oficialismo palaciano tem admitido, no máximo, ser “um movimento da classe média”ou de “setores desorganizados”. Tal “raciocínio” está orientado por marqueteiros que não conseguem enxergar as ansiedades, frustrações e sobretudo a indignação da população brasileira, mas apenas os efeitos visuais de sua mente defasada e distante da vida do povo.

Uma etapa da história brasileira encerrou: é preciso criar o novo capítulo e este não será inventado na solidão da torre palaciana, distante das ruas e praças do Brasil.

Tenho forte e profunda confiança que uma nova discussão acontecerá, de forma rica e sustentável, nos espaços do povo, por todo o Brasil, para surpresa e admiração dos céticos e analistas ultrapassados, a seqüência das manifestações explosivas, que continuarão a eclodir, com os protestos de diversas categorias sociais e suas peculiares características psicossociais e políticas, desconhecidas da maioria dos aprendizes de feiticeiras e seu receituário macabro.

As chamadas esquerdas, lugar de onde venho e não pretendo me afastar, têm novamente, a condição e oportunidade de compreender isto, e assim, respeitar e colaborar para geração de uma agenda capaz de tornar o Brasil mais conhecido pelas virtudes e valores que defendemos, tão antigos como a humanidade da qual somos parte vibrante.

O que está mais claro neste momento é que, quem está nas ruas e não sabe ainda ou com clareza o que quer, sabe perfeitamente o que não quer. E isto é suficiente para uma boa e sincera conversa.

Acabou a onda de mentiras, pois o povo está gritando e continuará a fazê-lo, expressando com coragem e contundência: - o rei está nu (o rei?) !

*José Prates é ex Prefeito de Salinas, por dois mandatos, arquiteto e urbanista, escritor. Criado e líder dos movimentos Lulécio e Dilmasia